sábado, 17 de maio de 2014

O Grande Arquiteto do Universo




Por Wagner Veneziani Costa

O Grande Arquiteto do Universo

 (c) copyright by MADRAS editora - Por Wagner Veneziani Costa
Apesar de certas concessões ao exagero, não existe nenhuma dúvida de que os maçons da Idade Média gozavam de uma situação social relativamente elevada e que contribuíram para a criação de uma profissão de construtores, cujos membros eram considerados indivíduos que exerciam uma arte liberal mais do que uma profissão de base. Sua posição elevada se percebe também na iconografia medieval de Deus Pai, como Criador, desenhando o universo com um compasso. O conceito de “Grande Arquiteto do Universo” remonta, consequentemente, muito além da expressão moderna da ideia. O mesmo é reproduzido frequentemente nas Bíblias ilustradas. A corporação dos maçons era uma das mais organizadas e fechadas da Idade Média. Chegar ao posto de Mestre maçom equivalia a converter-se em uma figura importante da região.
Na Europa, existiu, sob diversas formas, uma organização extremamente desenvolvida dessa profissão. Já no século XIII, localizamos na Alemanha Lojas dos talhadores de pedra em Magdebourg, Lübeck, Bremen, Colônia, Halterstadt e outras cidades. Mais tarde, as Lojas sofreram uma evidente decadência, por causa de profundas perturbações e de lutas que haviam surgido no interior dessas organizações. Para colocar um termo a esses conflitos, os Mestres de Lojas do sul e do centro da Alemanha se reuniram no capítulo de Ratisbonne, em 25 de abril de 1459, e ditaram novos estatutos sob a forma de Ordenanças.
Posteriormente, esses tais estatutos foram modificados e renovados pelo imperador Maximiliano I, em 1498, e finalmente confirmados pelos seus sucessores. Os chefes das grandes Lojas de Berna, Estrasburgo, Colônia, Viena e Zurique eram reconhecidos como juízes supremos das sociedades autônomas, compostas de Mestres, Aprendizes e Companheiros, e o Mestre da Loja principal da catedral de Estrasburgo era encarregado de julgar e resolver as diferenças que surgissem entre os afiliados. De fato, portanto – e aqui está a importância da descoberta de Grandidier –, em todo o Império e, na realidade, ultrapassando suas fronteiras, existiu uma ampla jurisdição, sob a autoridade do Mestre da Loja de Estrasburgo, com zonas dependentes, governadas por Berna, Colônia e Viena, cujo domínio se estendia por toda a Hungria, assim como aos ducados austríacos.
O nome de “franco-maçons”
A primitiva sociedade de obreiros de Estrasburgo foi conhecida no início sob o nome de “Irmãos de São João”. Mais tarde, quando em sua direção predominaram os monges, eles foram chamados de “confrades” e, finalmente, parece que foi em Estrasburgo que os construtores da catedral começaram a se chamar de “franco-maçons”. No entanto, segundo Findel, foi na Inglaterra, em 1350, que apareceu pela primeira vez a denominação de franco-maçom, ou de free-stone-mason, quer dizer maçom [pedreiro] livre que trabalha a pedra ornamental, para distingui-lo do rough-mason, trabalhador rude, normalmente aplicado aos escavadores ingleses. Ele é encontrado em um Ato do Parlamento correspondente ao ano 25 do reino de Eduardo III. Knoop, Jones e Salzman têm a mesma opinião, já que eles fazem derivar free-mason de free-stone-mason, expressão já conhecida em 1351. De sua parte, Frankl e Preclin-Jarry, assim como Marcy, pensaram que se tratava da isenção ou liberação dos maçons das grandes construções, em relação às corporações das cidades onde viviam, porque, nas grandes obras construídas na Idade Média, os técnicos eram estrangeiros, e não maçons locais. E esses grupos de maçons itinerantes defendiam com muito cuidado sua união e suas franquias ou isenções, não querendo de maneira alguma depender das corporações locais. Diríamos que tinham conseguido em toda parte aquilo que hoje em dia chamaríamos de autonomia sindical.Maurice Colinon também dá este sentido para a palavra “livre”, pois há muito tempo eles gozavam de privilégios excepcionais que faziam de suas corporações verdadeiros estados dentro do Estado, ou mesmo das Ordens, acima dos próprios Estados. Sobre esse assunto, Colinon afirmou que já o papa Bonifácio IV, em 614, lhes havia reconhecido monopólios que “os liberavam de todos os estatutos locais, dos éditos reais ou de qualquer outra obrigação imposta aos habitantes dos países onde eles viveriam”. Dependendo somente do papa, os maçons colocavam-se assim sob a proteção da Igreja, acima das leis particulares ou do poder temporal. Para eles não existiam fronteiras. Podiam transpô-las à vontade, tanto em tempos de paz como em plena guerra.Tanto os talhadores de pedras alemães como os obreiros livres ingleses, ao se reunirem em Lojas, formavam verdadeiros colégios (guildas) profissionais, que eram ao mesmo tempo entidades reconhecidas oficialmente com direitos políticos, e confrarias ou corporações livres que possuíam os segredos do ofício. Fallou e Heideloff descrevem e comentam os usos dos pedreiros, escavadores e carpinteiros da Alemanha, a respeito da recepção ou entrada na fraternidade, do direito da Loja, dos exames e do exercício da hospitalidade, usos e costumes que se perpetuaram com grande fidelidade até os nossos dias nos ritos da iniciação maçônica.
Uma vez terminado seu aprendizado, o Companheiro pedia a admissão, como nas guildas, sobre apresentação prévia de sua prova de honestidade e da legitimidade do seu nascimento. Considerava-se desonroso o exercício de profissões determinadas que impediam que o proponente fosse admitido; e a proibição estendia-se aos seus filhos. O neófito recebia um sinal de que deveria reproduzir em todas suas obras, e era a sua marca de honra. O Irmão que o havia proposto se encarregava especialmente de dirigi-lo. Em um determinado dia, o aspirante apresentava-se no local em que o corpo do ofício se reunia, uma vez preparada, aos cuidados do Mestre da Loja, a sala destinada a este fim. Considerando esse lugar consagrado à paz e à concórdia, os confrades aí entravam despojados de suas armas. Logo em seguida, o Mestre declarava a sessão aberta. O Companheiro encarregado da preparação do neófito, seguindo nisso um costume pagão, obrigava-o a adotar o aspecto de um mendigo. Ele era despojado de suas armas e de qualquer objeto metálico. Seu peito era desnudado e também o pé esquerdo, e seus olhos vendados, e era conduzido à porta que dava acesso à sala. Esta se abria após o chamado que era feito dando três golpes fortes. O segundo presidente conduzia o recipiendário ao Mestre e este o fazia ajoelhar-se enquanto se elevava uma oração ao Altíssimo. Então, o candidato dava três voltas ao redor da sala e, parando em frente da porta, colocava os pés em ângulo reto, depois dava três passos para chegar ao local ocupado pelo Mestre. Havia uma mesa à sua frente e sobre ela se encontrava o livro dos Evangelhos aberto, junto com o esquadro e o compasso. O candidato estendia a mão direita, jurando ser fiel às leis da confraria, aceitar todas as obrigações e guardar o mais absoluto segredo sobre aquilo que aprenderia em seguida. Uma vez terminada as cerimônias do juramento, retirava-se a venda do neófito, mostrando-lhe a tripla grande luz. Colocava-se nele um avental novo, e faziam-lhe conhecer a senha, designando o local que ele devia ocupar, e finalmente a saudação e o toque que posteriormente utilizavam os aprendizes franco-maçons.Exatamente um dos pontos de atrito, ainda hoje, é o juramento exigido em algumas Lojas quase o mesmo, palavra a palavra, que utilizavam os maçons da Idade Média. Um deles, conservado em um manuscrito de Edimburgo, no ano 1696, diz o seguinte: “Eu juro pelo bem e por São João, pelo Esquadro e o Compasso, de me submeter ao julgamento de todos, de trabalhar a serviço de meu Mestre na honorável Loja, da segunda-feira de manhã ao sábado, e de guardar as chaves, sob pena de ter a língua arrancada através do queixo e ser enterrado sob as vagas, lá onde nenhum homem saberá disso”.Entre os obreiros maçons da Idade Média, não somente os costumes tradicionais eram seguidos, mas ainda se dava um ensinamento secreto da Arquitetura na base de símbolos e de uma ciência mística dos números que eles aplicavam nos trabalhos de construção. Os símbolos serviam de regra ao serem aplicados à arte, e eram considerados eminentes aqueles que os compreendiam e os empregavam convenientemente. Ao mesmo tempo, o espírito deste ensinamento secreto exercia uma influência favorável nas Lojas, porque aí não se admitiam os aprendizes antes que eles dessem a prova de seus conhecimentos e de sua aptidão para compreender essa linguagem simbólica, contida nas maravilhosas construções da época, especialmente nos tímpanos, nas arcadas e nas esculturas.
Os números 3, 5, 7 e 9 – reminiscência pitagórica – eram considerados sagrados e também algumas cores relativas à sua arte. Assim, por exemplo, quando um talhador de pedra entrava pela primeira vez em uma Loja estranha, ele chamava à porta dando três golpes. Ele se dirigia para o Mestre, que dava três passos, como os franco-maçons atuais. Após ter perguntado se os assistentes tinham alguma questão a colocar, dando três golpes encerrava-se a sessão. Os banquetes que seguiam a recepção terminavam com uma prece. O recipiendário fazia um brinde, com a taça da confraria, aos mestres e à prosperidade da Ordem. Em todas as guildas, as pessoas bebiam tomando três goles, segurando a taça com a mão enluvada ou coberta por um pano branco. Levantava-se a tampa e, a libação terminada, colocava-se a taça sobre a mesa em três tempos.
O dourado, o azul-celeste e o branco eram os emblemas da sociedade secreta, e também o era uma corda com nós, que algumas vezes figura como ornamento nas fachadas dos prédios. Os símbolos mais expressivos e com um significado próprio nas Lojas – tanto como hoje – eram o compasso, o esquadro, o nível e a régua. Nas Lojas, o Mestre colocava-se à esquerda, como o sacerdote no templo, os presidentes à direita, virados para a esquerda. Esses chefes simbolizam as três colunas da Loja, quer dizer, a sabedoria, a força e a beleza, e representam ao mesmo tempo a humanidade e a atividade. A representação emblemática das ferramentas maçônicas não revelava apenas o caráter da época, mas era também uma prova de relações morais diretas entre os associados. Os talhadores de pedra não as inventaram, embora lhes tenham atribuído um valor de santidade. Ao construir um templo, o Mestre talhador perpetuava seu nome e contribuía para a glorificação do Ser Supremo, para a propagação da fé, para a prática da virtude e para o exercício da piedade.
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